sexta-feira, junho 18, 2004

The South Will Rise Again?
A Convenção Baptista do Sul saiu da Aliança Baptista Mundial. Não me interessa fazer uma análise séria e imparcial do caso. Outras paróquias fá-lo-ão muito melhor. Um dos argumentos usados pelos sulistas é de que a ABM tinha vindo a assumir uma postura política "à esquerda". Anti-americana e teologicamente liberal.
Sabemos o que está em causa. Os baptistas do sul têm-se mostrado publicamente ao lado de Bush. Ora, o presidente americano é uma meretriz babilónica até aos olhos dos geralmente insípidos baptistas europeus. Basta ver a forma ingénua como Carter tem sido promovido como "exemplo" para a actual administração. O velho Jimmy foi azarado com o Irão mas aprendeu a construir casas para os pobrezinhos e lá lhe deram um Nobel. Da mesma maneira como o parodiante Moore recebeu a Palma. O Velho Continente tem sido próspero em recompensar quem junte mais gasolina à fogueira "anti-imperialista" (como eles gostam de dizer).
Provavelmente a Convenção Baptista do Sul até faz bem em sair da ABM. Escusa-se de se pegar nas questões ditas teológicas. Não será por aí. Não é necessário apimentar a coisa com acusação de simpatia pelos efeminados. Como diz Denton Lotz, o secretário-geral da ABM, somos todos "conservative evangelicals". E é verdade.
Raramente a política tem sido motivo de divisão entre evangélicos. Contudo, parece que os tempos nos empurram para a assunção de diferenças. A concórdia entre gente tão diversa é um valor relativo. Afinal muitas vezes estão "reunidas" formas antagónicas de olhar o mundo. Quem não sabe o que é juntar um pentecostal com um baptista?
No quintal que são os baptistas portugueses muito me apercebi que era escândalo para os irmãos apoiar a intervenção americana no Iraque. Trágica ironia. Tudo o que importamos da América e me revolve as entranhas foi esquecido neste momento de crucial ódio contra-atlântico. Muitos dos pastores que tão alarvemente ridicularizam agora os americanos são aqueles que, mal aterram no aeroporto, não vêem a hora de transformar as suas igrejas de subúrbio no último grito da moda evangélica em terras ianques. E um pouco de vergonha?
Debaixo da designação "evangélicos" cabem carismáticos em chamas, moderados que lêem o Público, cristianofascistas, intelectuais de esquerda, exorcistas sem paramentos, papa-versículos, obcecados pelo inferno e superintendentes da Escola Dominical. Não era bom se a banda parasse de tocar essa cantiguinha brasileira pirosa e começássemos a assumir as nossas divergências? Não temos de acabar as nossas reuniões sempre com um amén.
Tiago de Oliveira Cavaco